04 julho 2007

À pesca com John Lurie e Tom Waits



O programa chama-se “Fishing with John” e é apresentado, escrito e realizado por John Lurie. A banda sonora é também da sua responsabilidade e conta, entre outros, com a colaboração da voz e do piano do seu irmão Evan e de Naná Vasconcelos na percussão. Foi emitido no início dos anos 90 e teve como convidados Willem Dafoe, Matt Dillon, Dennis Hopper ou Jim Jarmusch. São programas com menos de trinta minutos e um convidado diferente em cada.

Tom Waits é o segundo convidado do programa. Cenário: Jamaica. Informação do narrador: depois de destruírem o carro, John e Tom tem de se movimentar pela ilha numa canoa. Rob Webb, o narrador, é delicioso. Poucas intervenções. As suficientes apenas para nos manter atentos e com um sentido de humor irrepreensível.

Neste programa, a tendência de Tom para criar situações e diálogos onde o absurdo e o inesperado se encontram, resulta em momentos hilariantes a que ele já nos habituou. A par de uma carreira fabulosa como músico, interprete, compositor e actor, Tom Waits brinda-nos com uma carreira paralela de stand-up comedian da vida real que não pára de surpreender e que é notório a cada entrevista ou aparição pública. Tal como Midas trasformava em ouro tudo o que tocava, Tom Waits consegue, da situação mais insignificante e vulgar, proporcionar momentos de humor ao alcance apenas de quem costuma rir-se frequentemente de si próprio. Senão vejamos.




A certa altura, Tom enjoa. John pergunta-lhe:
John: Did you throw up?
Tom: No.
John: Maybe its better if you do.
Tom: I hate to throw up. It was such a beautiful breakfast, you know. I'd like to hang on to it just a little bit longer.

Na altura de colocar o isco:
Tom: Where you hook this bait?
John: Through the eyes.
Tom: Oh Jesus.
John: You want me to do it?
Tom: Yeah, why don’t you do it? He already looked at me. I can’t do it now. We have a relationship.



Ao julgar que o isco que usam não resulta, Tom lamenta-se por não ter levado o queijo. Diz que os melhores peixes que apanhou foi com queijo: "How often does a fish has the chance to eat some of the finest cheeses? It just doesn´t happen".

Depois de pescarem o primeiro peixe, não sabem onde o devem colocar. Tom lembra-se então de o colocar dentro dos calções. “Should I put it in my pants?”, pergunta. E é isso que faz. Mais tarde, quando John pesca também um e diz que se parece com o que Tom pescou, ele responde: “It cant be. The first one is in my pants”. Tom inventa até uma nova forma de pesca desportiva: em vez de pescar e devolver, “I believe in catch, put it in my pants, and release".




Nem um nem outro percebem nada de pesca. Por entre as estórias inventadas de marinheiros e de “peixes-galinhas”, uma espécie também inventada por Tom, onde eles se sentem mais à vontade é num jogo de cartas. John protesta uma aposta que não o deixaram fazer e Tom está, agora sim, “como peixe na água”. Cigarro ao canto da boca, um baralho de cartas e terra firme debaixo dos pés.





Um programa que passou apenas nas televisões por cabo no início dos anos 90, transformou-se, como seria de esperar, em objecto de culto. Para isso contribuiu o facto de Lurie ser um actor e músico muito em voga nos circuitos independentes e também, obviamente, pelos excelentes convidados. Uma ideia simples, reunir alguns amigos em volta de conversas proporcionadas por uma actividade vulgar, faz lembrar um “Smoke” ou um “Blue in the Face” em versão Documentário Marítimo. A não perder esta meia hora com momentos memoráveis.



Part 1/3



Part 2/3



Part 3/3


Está também disponível o primeiro episódio com Jim Jarmush no Google Video.

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