21 setembro 2007

Tom Waits, O Chato

Há uns tempos, num fórum de discussão sobre música, alguém perguntava porque é que o Tom Waits nunca tocou em Portugal. Participou num filme português, "Na Pele do Urso" de Eduardo Geada, mas nunca deu um concerto em terras lusas. Alguns motivos foram adiantados e algumas vozes reclamaram que não fazia falta. Um crítico musical reputado da praça pública chegou mesmo a dizer que Tom Waits era um chato e que só iriam a um concerto dele umas quantas “balzaquianas indie-coiso”. A este crítico juntou-se logo a seguir um outro afirmando que "o gajo" faz o mesmo álbum há 30 anos.

Como o fórum sofreu entretanto uns ajustes e passou por algumas peripécias difíceis de explicar aqui e que fizeram com que esse tópico desaparecesse para sempre, reproduzo agora a minha resposta (ilustrada quase até à exaustão) a pedido de algumas famílias.

Embora as primeiras frases não façam sentido para quem não acompanhou a discussão desde o início, penso que o conteúdo do resto do texto faz sentido só por si.




"Pois é. Um chato do caralho.

E estas balzaquianas indie-coiso. Ui. Até ouvi dizer que são todas feias. Dizem. Porque eu não saio muito de casa. É verdade que usam ganchinhos no cabelo?


As meninas que estarão no concerto...


Mas este chato, pá.
Só lançou 2 ou 3 albunzecos e não valem a ponta de um corno. E entedia as pessoas com o seu discurso sem sal a cada entrevista que dá. Gajo mais desinteressante e que não sabe sequer contar uma estória. E gajo mais sem humor. E já para não falar de ser um gajo que até chateia de tão inculto que é.


Um exemplo da falta de sentido de humor



E em tantos anos de carreira nunca influenciou ninguém.

Como é possível?

Nem sequer uma versãozita de uma música do gajo alguma vez se fez... Gajos como o Tim Buckley, os Ramones, o Lee Hazlewood, os Canned Heat, o Bob Seger, o Screamin' Jay Hawkins, os The Walkabouts, o Elvis Costello, a Anne Sofie Von Otter, a Ute Lemper, a Chan Marshall, a Marianne Faithfull, o Jonathan Richman, a Holly Cole, a Emiliana Torrini, a Rickie Lee Jones, o Jan Johansen, o Solomon Burke, o Frank Black, os Black Diamond Heavies, o Howe Gelb, o John Hammond, o Paul Weller, a Diana Krall, a Lucinda Williams, o Willie Nelson, os Great Lake Swimmers, os Eels, a Jane Birkin, a Cibelle, a Madeleine Peyroux, os Cold War Kids, a Lydia Lunch, ou sequer os Queens Of The Stone Age, para não se falar em mais de uma centena que podiam ter feito mas não fizeram, se deram ao trabalho de homenagear este bêbedo com uma versãozeca por mais rasca que fosse.



Diana Krall


Ramones


Norah Jones


Black Diamond Heavies


Solomon Burke


Franck Black


John Hammond



Cibelle


Eels


Cold War Kids



E os concertos do gajo consta que são das cenas mais entediantes de sempre. Nunca conheci ninguém que tivesse gostado dos 4 ou 5 concertos que deu em 30 anos.



"Jesus Gonna Be Here", Maio de 2000 em Varsóvia



Não percebo sequer como gajos como o Ribot, o Les Claypool, o Musselwhite, os Kronos Quartet, o John Hammond, os Rolling Stones, o Roy Orbison, os Primus, o Gavin Bryars, o Chuck E. Weiss ou os Sparklehorse e alguns realizadores como o Coppola, o Win Wenders, o Jim Jarmush, o Roberto Benigni, o Hector Babenco, o Terry Gilliam, o John Lurie, o Tony Scott ou o Robert Altman que o poderiam ter convidado para fazer as bandas sonoras dos seus filmes ou para protagonizar ou fazer papeis secundários, não arriscaram a sua reputação ao trabalhar com um gajo tão chato como este. Deve ser só por isso.



"One from the heart" - making of



Este gajo até toca em casamentos... tsc, tsc

Um gajo que podia ter escrito e composto músicas como, e estou só a sugerir títulos de músicas que o gajo deixou escapar, como uma Hang on St. Christopher, Clap Hands, Jockey Full of Bourbon, Earth Died Screaming, Innocent When You Dream, Straight to the Top, Frank's Wild Years, Singapore, Temptation, Underground ("there's a world, going on, underground" poderia ter ficado bem na letra), Black Rider, Jockey Full of Bourbon, Singapore, Shore Leave (onde podia ter escrito sobre jogar bilhar com anões enquanto a chuva não pára, e sobre comprar baralhos de cartas daqueles com meninas nuas e escrever uma carta para a mulher porque se sente sozinho, por exemplo), Johnsburg, Illinois, Way Down In The Hole, Strange Weather, November, 16 Shells from a Thirty-Ought Six, Jesus Gonna Be Here, I Don't Wanna Grow Up (sobre o crescimento e as chatices que isso traz mas o gajo já quando era novo era um velho por isso não se lembrou), Romeo Is Bleeding, Kentucky Avenue (esta então dava para escrever uma letra do caralho! não percebo porque é que o gajo não a escreveu), Christmas Card From A Hooker In Minneapolis (onde podia ter aproveitado para falar de drogas e prostituição), Goin' Out West (onde poderia dizer que sabe karate e voodoo), ou começar uma carreira com canções sobre não se apaixonar, e aqui sugeria-lhe um título deste género I Hope That I Don't Fall In Love With You, e outras como Martha ou Lonely.



Innocent when you dream



Frank's Wild Years



Waltzing Matilda



Temptation



Lie To Me



Hold On



Shore Leave




Telephone call from Istanbul



16 Shells from a Thirty-Ought Six



I Don't Want To Grow Up



Romeo is Bleeding




Goin Out West (I)



Goin Out West (II)

E é por isso que o gajo é um chato mas é Big In Japan. Aqui é que não o compreendem. Como é possível que o gajo não tenha escrito músicas sobre mulas com títulos como Get Behind The Mule ou obsessões com o que os vizinhos fazem como What's He Building? Ou canções perfeitas como Picture In A Frame simplesmente sobre se colocar uma foto numa moldura e saber que a partir daí tá tudo fodido porque nunca mais vais deixar de gostar da pessoa que está nessa foto e te vai apetecer vestir um fato domingueiro e amar essa pessoa até as rodas saltarem. Ou falar de um Jesus de Chocolate e isso poder substituir a ida à Igreja e ainda por cima fazerem sentir muito bem um gajo por dentro. Ou falar de casas onde ninguém vive. Era chato escrever uma coisa como House Where Nobody Lives, não era?



What's He Building?



Chocolate Jesus


E falar de ovos e salcichas? Que chatice. Quem se lembraria disso. Até o título seria mau: Eggs And Sausage. Tal como escrever sobre como se estar melhor sem uma esposa. As mulheres nunca perdoariam uma Better Off Without A Wife. Além de chato seria um machista.

Um gajo que não respeita a honestidade podia ter escrito uma Lie To Me ou falar das estações do ano numa You Can Never Hold Back Spring já que é tão chato. Quem escreve sobre estas cenas, foda-se?

Podia era ter aproveitado para falar das mulheres que fogem com o dinheiro e com os melhores amigos. A mesma estória de sempre mas que podia insistir em contar novamente. Isso sim seria uma boa cena. E pedir que caísse uma ganda chuvada e chamar-lhe Make It Rain.

Ou sobre desejar estar em New Orleans a queixar-se de um fígado todo fodido e de um coração partido enquanto protestava com o raio do piano desafinado que o obrigava a trocar a letra toda mas que continuava a convidar para o blues.

Um cabrão é o que o gajo é, que perdeu tempo a tentar alvejar a lua. E isto em Novembro. Bêbedo e a julgar que ouvia saxofones ao luar.

Devia era ter escrito músicas sobre Ol' 55 e sobre não falar com estranhos, isso sim, o chato do caralho.

Mas numa coisa tenho de concordar com ele. Impossível gostar de cerveja quente e mulheres frias. O cabrão acertou pelo menos numa.

Mas isso não faz com que deixe de ser um chato."

Etiquetas: , , , , , , , , , ,